Em situação de alerta desde o dia 19 de janeiro, a condição do Rio Gravataí foi elevada para crítica após monitoramento realizado no início desta semana. A ausência de chuvas provocou redução no nível dos principais rios da região, ocasionando transtornos à população e suspendendo a captação de água no Sinos e Gravataí para atividades que não sejam o abastecimento humano. No Passo das Canoas, popular balneário de Gravataí, a medição da Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema) alcançou 1,13 metros, enquanto foi de apenas 50 centímetros na Estação de Tratamento de Água (ETA) da Corsan no Passo dos Negros, em Gravataí, e ainda 1,18 metros na ETA Alvorada, fazendo com que a condição do Rio Gravataí estivesse crítica pelo sexto dia consecutivo. Para os ambientalistas do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Gravataí (Comitê Gravatahy) e da APN-VG ( Associação de Preservação da Natureza do Vale do Rio Gravataí), a proibição da captação reforça a necessidade de realização das obras anunciadas pelo governo federal, com investimentos para construção de mini barramentos. As micro barragens, quando concluídas, serão estratégicas para a reservação da água, defendeu o ecologista Paulo Muller, presidente da APN-VG, em entrevista exclusiva ao programa É Isso Aí!, conduzido por Chico Pereira em seu canal no YouTube. A proposta faz parte do Plano Metropolitano de Proteção Contra as Cheias e Estiagens na Bacia do Rio Gravataí, onde constam as 13 micro barragens para aumentar as áreas de banhado e preservar a água. “As micros barragens possuem uma função muito importante que vai além de reservar água no banhado. É um processo de equalização. As barragens vão fazer o Gravataí correr pelo seu leito natural. Por exemplo, a água vai passar por cima da micro barragem e descer”, acrescenta o ecologista. O barramento é a principal medida elaborada a partir de estudos técnicos encomendados pela Metroplan, como parte do PAC Desastres, que desde 2013 custaram R$ 5 milhões. A previsão é de início das obras em 2026. Há R$ 8,5 milhões disponíveis para a obra.”O dinheiro já está disponível e a FEPAM (Fundação Estadual de Proteção ao Meio Ambiente) está terminando os últimos estudos para iniciar o projeto da obra, que deve começar entre o final de 2025 e o ano que vem”, salienta.
Para o ecologista, o processo de desassoreamento (sistema de limpeza efetuado no fundo rio) repetiria o mesmo erro que ocorreu nas décadas de anos 60 e 70, quando o DNOS (Departamento Nacional de Obras de Saneamento) do governo militar, para beneficiar os arrozeiros da região, abriu um canal que mudou o curso do rio, reduzindo as áreas de banhado, que retém a água necessária para a população e a indústria. “Aos poucos as lavouras de arroz foram saindo daquela localidade para dar lugar a uma reserva ecológica. Hoje é uma das áreas mais bem preservadas da região. Fazer diques e a limpeza são importantes, mas temos que ir no cerne da coisa que é segurar a água”, conclui o ambientalista.
Em conversa descontraída com o comunicador, Muller recordou de um passeio ao Gravataí junto com Tamir Link e Chico Pereira. Os três foram ao local a bordo de um Chevette azul, de propriedade de Chico. Durante a visita, Pereira realizou as filmagens do banhado e foi convidado por Muller para fundar a associação de preservação em prol da manutenção das suas nascentes do Gravataí. “Lembro quando Chico tinha uma máquina Super 8 e fez a primeira filmagem do Banhado do Guará, onde nasce o Rio Gravataí. Devemos ter esse filme até hoje. Ele foi o cabide para fundar a ANP-VG junto com a Tânia Peixoto no Salão Paroquial do Dom Feliciano. Através da fundação foi criada um projeto de preservação ambiental da Bacia do Banhado Grande”, recordou.