Um acontecimento marcante nas obras do Instituto de Educação General Flores da Cunha, em Porto Alegre, ocorreu no final da manhã deste domingo (21/1). A equipe de restauradores que trabalham nas obras começou a recolocação de três telas de grandes proporções nas paredes do saguão da tradicional escola do Estado. Com a ação, uma nova fase da recuperação deve iniciar nas próximas semanas.
Desde novembro de 2023, um cuidadoso trabalho de limpeza e preparação para a restauração ocorreu das obras. A mais antiga das três, Garibaldi e a esquadra farroupilha (5,45 m x 3,42 m, de 1916), pintada pelo piauiense Lucílio de Albuquerque, representa o transporte do barco comandado por Giuseppe Garibaldi da Lagoa dos Patos até o Oceano Atlântico, rumo a Santa Catarina.
As outras duas foram pintadas pelo gaúcho Augusto Luis de Freitas, quando ele residia em Roma, e entregues ao Estado em 1926. A chegada dos casais açorianos (6,3 m x 5,5 m, de 1923) retrata os primeiros povos portugueses a aportar no Estado. E Combate da Ponte da Azenha (5,46 m x 3,76 m, de 1923), o combate que deflagrou a Guerra dos Farrapos em 1835.
Sob a coordenação das restauradoras Maria Cristina Ferrony e Leila Sudbrack, as telas já tinham passado por um processo de manutenção há mais de 13 anos. Devido ao estado de conservação do prédio que as abriga, precisaram ser retiradas e acondicionadas para sua preservação, mas foram mantidas nas dependências da escola.
Conforme Maria Cristina, da Floresta Arte, Conservação e Restauro, inicialmente foi necessário retirar as sujeiras depositadas nas telas ao longo dos anos. “Após a abertura das caixas que protegiam as telas, nós iniciamos uma limpeza prévia para retirar algumas sujidades e poeira acumuladas enquanto elas estiveram guardadas. Na sequência, retiramos uma a uma das caixas de proteção para trabalhar no verso e trocar os bastidores antigos por novos”, explicou.
Uma equipe composta por 14 profissionais trabalhou na reinstalação dos quadros nas paredes do Instituto de Educação, permitindo que comece a restauração pictórica e a recuperação de partes danificadas pela ação do tempo. A previsão é de que essa etapa se inicie na segunda quinzena de fevereiro, o que demanda a montagem de andaimes para que os restauradores possam trabalhar.
Estas pinturas têm uma rica história e são peças fundamentais no cenário artístico e cultural do Rio Grande do Sul. Originalmente encomendadas pelo então presidente do Rio Grande do Sul Antônio Augusto Borges de Medeiros para adornar o Palácio Piratini, as telas foram tombadas em nível estadual em 2011, evidenciando sua importância histórica e artística.
Apesar de não haver consenso entre os pesquisadores, historiadores afirmam que, por não terem o tamanho correto para ficarem na sede do governo, as obras ficaram guardadas até 1935, quando o Estado realizou a Exposição do Centenário da Revolução Farroupilha no então Parque da Redenção, depois rebatizado como Parque Farroupilha. Na época, foi construído o prédio do Pavilhão Cultural, que viria a se tornar o Instituto de Educação. Desde então, as pinturas permaneceram em exposição no saguão.
Reforma geral
A restauração das pinturas não é o único motivo de celebração da tradicional escola. Com 90% do cronograma físico da reforma concluído, o prédio centenário se prepara para receber os alunos na abertura do ano letivo de 2024, em fevereiro. O governo do Estado investiu R$ 17,2 milhões na reforma, sendo cerca de R$ 10,7 milhões somente em 2023, com a fiscalização dos trabalhos a cargo da Secretaria de Obras Públicas (SOP).
A transformação inclui finalização de pintura, recolocação de pedras portuguesas na calçada e entrada principal, instalação de brinquedos, paisagismo e colocação de cadeiras restauradas no auditório. Além das salas de aula, a estrutura conta com um ginásio de esportes, três novas quadras abertas e três laboratórios, evidenciando o compromisso do governo em modernizar o espaço.
Patrimônio artístico
Os trabalhos de preservação e restauração do patrimônio cultural foram possibilitados por um investimento de R$ 536 mil do governo do Estado, por meio da Secretaria da Cultura (Sedac). A previsão é que o restauro se estenda por oito meses, durante os quais serão realizadas fases meticulosas para a recuperação das telas.
Todo o processo, desde a análise cuidadosa do estado de conservação até a aplicação de verniz especial para preservação, será documentado, proporcionando uma referência valiosa para futuras gerações.
A restauração destas obras centenárias não apenas recupera um patrimônio artístico significativo, mas também contribui para a preservação da história e cultura do Rio Grande do Sul, permitindo que as futuras gerações desfrutem dessas peças únicas e emblemáticas.